LITERATURA INFANTIL E JUVENIL
Literatura
A palavra Literatura vem do latim “litterae” que significa
“letras” e significa uma instrução ou um conjunto de saberes ou habilidades de
escrever e ler bem, e se relacionar com as artes da gramática, da retórica e da
poética. Por extensão, se refere especificamente à arte ou ofício de escrever
de forma artística.
|
TURMA 02 DE PEDAGOGIA PELA FAIBRA/ JUCURUTU - RN |
Segundo Duarte (In: Lahni, 2009), “podemos usar o termo
“literatura” também quando nos referimos a textos direcionados a um tema
específico, como literatura voltada para administração, direito, medicina etc.”
Para tentar explicar o conceito de literatura, voltemos no tempo, com um dos
primeiros textos que tentava explicar a literatura. O filósofo grego,
Aristóteles (2003), em seu livro Arte Poética afirma que “arte é imitação”:
“O imitar é congênito no
homem (e nisso difere dos outros viventes, pois de todos, é ele o mais imitador
e, por imitação, apreende as primeiras lições), e os homens se comprazem no
imitado”.
Duarte (idem) também nos orienta outra maneira para, senão
explicar, ao menos entender a literatura, “é a comparação de um texto
científico com um texto artístico. No científico não há uma preocupação em
empregar as palavras de tal forma que o texto fique mais belo, com um efeito
emocional.” Já nos textos artísticos, essa preocupação é constantemente levada
em consideração,
além,
é claro, de passar a sua ideia. “Em suma, um texto literal tenta, passar a sua
ideia, mas também, há uma grande preocupação em oferecer aos leitores uma
emoção ao empregar a língua, usar metáforas visando sempre deixar o texto mais
belo.”
Diferente de outras ciências, a literatura não possui uma
utilidade prática e direta, ao contrário disso, é a marca cultural da
sociedade.
Num mundo caótico e violento, em que as pessoas vivem para o
trabalho, ter contato com a literatura é encontrar o belo, enxergar na vida um
sentido que vai além do funcional, é ver o mundo a partir de uma nova
perspectiva.
Quando você lê um conto, uma poesia ou um livro de aventuras está
lendo literatura.
Literatura é a arte de escrever e é a ela que nos referimos quando
falamos de autores de livros de todos os tempos, de poetas e de aventureiros
que um dia escreveram seus relatos.
De acordo com Santana (2010), após incansáveis estudos e debates,
alguns pontos são relevantes e até conclusivos a respeito da literatura. São
eles:
• A
literatura é uma forma artística de representação da realidade.
• A
linguagem escrita é o seu meio de expressão artística.
• É
um tipo de linguagem bastante valorizado pelos círculos intelectualizados,
escolas e academias.
• Os
valores que creditamos à literatura são transitivos, ou seja, mudam a cada
momento histórico.
Se atentarmos bem a este último item, é natural que a expressão
literária se dê de acordo com o momento histórico em que está sendo criada.
O
que é a Literatura Infantil?
Desde os primórdios, a Literatura Infantil surge como uma forma
literária menor, atrelada à função utilitário-pedagógica que a faz ser mais
pedagogia do que literatura.
Contar histórias para crianças sempre expressou um ato de
linguagem de representação simbólica do real direcionado para a aquisição de
modelos linguísticos. O trabalho com tais signos remete o texto para alguma
coisa fora dele, de modo a resgatar dados de um real verossímil para o leitor
infantil. Este, tratado fisionomicamente sob o “modo de ser” do adulto,
reflete-se para a
produção
infantil como um receptor engajado nas propostas da escola e da sociedade de
consumo.
Deverá, sobretudo, apreender, via texto literário infantil, a
verdade social.
Nesse
universo, opera-se por associações mais simples de pensamento, as de
contiguidade, feitas com base na proximidade explícita e compulsória entre os
elementos da cadeia significativa: texto-contexto. Lógica comandada pelos
princípios de sucessividade e de linearidade, o que corresponde ao resgate do
tempo real com base na verossimilhança pretendida como uma lei
absoluta
da linguagem discursiva.
Portanto, se considerarmos o arranjo do discurso literário sob a
operação da contiguidade dos signos, em convenção simbólica, mais nos
aproximamos do uso social desse discurso, reforçando as estruturas do
pensamento vigente em educação. Isso, sem discutir o tratamento apontado pela
escola ao decidir as respostas da criança na leitura do texto literário:
passividade e persuasão acompanham a recepção dos modelos da verdade
verossímil; ainda a voz da lei pedagógica em exercício literário.
Mesmo com a chegada do universo dos videogames, computadores e
instrumentos tecnológicos específicos para crianças, ainda permanece o
interesse pelos clássicos da Literatura Infantil, que povoam os passatempos
infantis há séculos. O conceito Literatura Infantil ainda é recente, tendo seu
movimento de expansão a partir do século XVIII.
Os “bastidores” da produção do livro estão ocultos, e à leitura só
resta seguir índices, rastros que desembocam, inevitavelmente, num ponto
terminal: o hábito comportamental que se quer ensinar.
Esse é o caso de todo um tipo de produção para a infância tida por
nova para enfrentar o cotidiano; a chamada literatura “realista” para o público
infantil.
O que se nomeia por realista, aí, outra coisa não é senão trazer
para o texto um conjunto de temáticas — pobreza, menor abandonado, pais
separados, sexo etc. — vinculadas, por contiguidade, ao contexto social no qual
se pretende inserir a criança. Construção plana, previsível, sem surpresas,
numa linguagem que tem por tarefa, apenas, ser canal expressivo de valores e de
conceitos fundados sobre a realidade social.
Linguagem carregada de ideologia que permeia cada fala do
narrador, cada diálogo das personagens, e tem um destinatário certo: o leitor
infantil, cujo pensamento se pretende capturar.
Não há possibilidade de respostas alternativas nesse processo
educativo autoritário que só admite à criança a função de aprendiz passivo
frente à voz todo-poderosa do narrador e de seu enfoque da realidade social.
Seguindo essa trilha, não é preciso dizer, estão os produtos com
menor grau de invenção e de liberdade criativa; perdem em poeticidade o que
ganham em imediatismo e em praticidade.
Temos aqui descrita uma frente literária comum não apenas à grande
parte da produção infantil contemporânea, mas também àquela não-infantil.
Desnecessário se torna falar dessa qualidade literária à margem de um contexto
de produção que se nega a especular sobre a natureza sensível da linguagem
infantil; ao contrário, troca o inventar poético pelo modelo consumista do
discurso literário.
Pound consideraria essa classe da produção literária como sendo a
dos diluidores, “homens que trabalham mais ou menos bem, dentro do estilo mais
ou menos bom de um período. Desses estão cheias as deleitosas antologias, assim
como os livros de canções e a escolha entre eles é uma questão de gosto”.
Tomando-se literário no sentido estrito que lhe dá Jakobson (1970), isto é,
enquanto função poética (projeção do eixo da similaridade sobre o da
contiguidade), assumir a dominante poética nos textos da literatura infantil é
configurar um espaço onde equivalências e paralelismos dominam regidos por um
princípio de organização basicamente analógico, que opera por semelhanças entre
os elementos. Espaço no qual a linguagem informa, antes de tudo, sobre si
mesma. Linguagem-coisa com carnadura concreta, desvencilhando-se dos desígnios
utilitários de mero instrumental.
Palavra, som e imagem constroem, simultaneamente, uma mensagem
icônica que se faz por inclusão e síntese, sugerindo sentidos apenas possíveis.
É a informação lançada no horizonte precário da arte feito de “um retalho de
impalpável, outro de improvável, cosidos todos com a agulha da imaginação”
(Machado de Assis). Cada coisa, cada ser pode ter similaridade com outros,
redescobrindo o princípio da correspondência que os integra no todo universal;
nesse fugaz instante entre o dito e o não-dito.
O pensamento infantil é aquele que está sintonizado com esse
pulsar pelas vias do imaginário. E é justamente nisso que os projetos mais
arrojados de literatura infantil investem, não escamoteando o literário, nem o
facilitando, mas enfrentando sua qualidade artística e oferecendo os melhores
produtos possíveis ao repertório infantil, que tem a competência necessária
para traduzi-lo pelo desempenho de uma leitura múltipla e diversificada.
Para Pinto (2009), leitura que segue trilhas, lança hipóteses,
experimenta, duvida, num exercício contínuo de experimentação e descoberta.
Como a vida.
Origens
da Literatura Infantil
Tendo
surgido como reflexo de algumas transformações sociais, a literatura infantil,
desde sua origem, instiga uma reflexão que procura definir seu estatuto no
contexto das artes em geral. Tal preocupação deve-se à especificidade do gênero
que, destoando de outras formas de manifestação
artística, já
nasce com uma destinação precisa, definida pelo adjetivo que o caracteriza.
Neste
sentido, observamos travar-se em seu cerne uma luta entre o conceito de
literatura enquanto construção linguística que se define por sua autonomia e o
designativo “infantil” que invoca um recebedor determinado, obrigando o gênero
a “atender aos interesses” desse receptor.
Associada
a acontecimentos de fundo econômico e social, a origem da literatura para
crianças ocorre no século XVIII, período em que a Revolução Industrial é
deflagrada. Determinando o crescimento político e financeiro das cidades, a
industrialização tem como reflexo direto a decadência do sistema medieval,
baseado no feudalismo e na valorização do poder rural.
Em
substituição aos grandes senhores feudais, a burguesia se afirma como classe
social urbana, incentivando a consolidação de instituições que a ajudem a
atingir as metas desejadas. Entre essas instituições, destacam-se a família e a
escola. Interessado em fraturar a unidade do poder dos feudos, o Estado
Absolutista passa a estimular um modo de vida mais doméstico e menos participativo
publicamente, criando para tanto um determinado estereótipo familiar, baseado
na organização patriarcal e no modelo de família nuclear.
Produto
da industrialização e, portanto, sujeito às leis do mercado, o livro passa a
promover e a estimular a escola, como condição de viabilizar sua própria
circulação e consumo. Nesse sentido, sua criação, visando a um mercado
específico cujas características precisam respeitar e motivar adota posturas,
por vezes, nitidamente pedagógicas e endossa valores burgueses, a fim de
assegurar sua utilidade. Surge, nesse momento, o grande impasse que acompanhará
todo o percurso de evolução do gênero: arte literária ou produto
pedagógico-comercial?
Longe
de ser resolvido, tal impasse faz emergir um questionamento incômodo: se de um
lado, tantas concessões interferem na qualidade artística dos textos; de outro,
denunciam que, sem concessões de qualquer grau, a literatura não subsiste como
ofício, ou seja, sem abrir espaço para a mediação do leitor no seu processo de
elaboração, a literatura não se socializa.
É
na tentativa de resolver essa problemática que a literatura infantil e seu
estudo vão ganhando relevância.
O
surgimento da Literatura Infantil no Brasil
Embora
a literatura infantil tenha surgido no século XVIII, foi somente no século XIX
que, relativizando, ainda que de maneira incipiente, o flagrante pacto com as
instituições envolvidas com a educação da criança, ela define com maior
segurança os tipos de livros que mais agradam aos pequenos leitores, determinando
suas principais linhas de ação: histórias fantásticas, de
aventuras e que
retratem o cotidiano infantil. Descoberto e valorizado esse interesse, o gênero
ganha consistência e um perfil definido por meio do trabalho dos autores da
segunda metade do século XIX, garantindo sua continuidade e atração.
É
nesse contexto que a vertente brasileira do gênero emerge. Embora os livros
para crianças comecem a ser publicados no Brasil em 1808 com a implantação da
Imprensa Régia, a literatura infantil brasileira nasce apenas no final do
século XIX. Mesmo nesse momento, a circulação de livros infantis no país é
precária e irregular, representada principalmente por edições portuguesas que
só aos poucos passam a coexistir com as tentativas pioneiras e esporádicas de
traduções nacionais.
Enquanto
sistema (de textos e autores postos em circulação junto ao público), a
literatura destinada ao jovem público brasileiro se consolida somente nos
arredores da Proclamação da República.
Transformando
o movimento de nacionalização em nacionalismo, a literatura lança mão, para a
arregimentação de seu público, do culto cívico e do patriotismo como pretexto
legitimador, conceitos que se manifestam por meio da exaltação da natureza, da
grandeza nacional, dos vultos e episódios históricos e do culto à língua
pátria.
Nesse
sentido, se por um lado a preocupação com o destinatário infantil motivou a
adaptação que fez esses textos afastarem-se dos padrões europeus; por outro, o
compromisso escolar e ideologicamente conservador atribuiu a essa literatura a
função de modelo.
O
segundo período da literatura infantil brasileira (1920 – 1945) correspondeu à
progressiva emancipação das condições que, na época de seu aparecimento,
impediram a autonomia do gênero.
Publicando em 1921 Narizinho Arrebitado, Lobato inaugura uma nova
estética da literatura infantil no país, concebendo-a como arte capaz de
modificar a percepção de mundo e emancipar seus leitores. A renovação por ele
proposta pode ser observada tanto no plano retórico como no ideológico. No que
se refere à retórica, observa-se na prosa lobatiana soluções comunicativas no
plano linguístico que despem a língua de qualquer rebuscamento, dando primazia
à espontaneidade do estilo infantil por meio da valorização do discurso oral,
expressões de linguagem popular, neologismos e onomatopéias. Quanto ao aspecto
ideológico, ou seja, ao conjunto de ideias que dão conformação ao texto, o que
se observa em sua produção infantil é a captação do leitor pelo mundo
ficcional. Estimulando esse leitor a ver a realidade por conceitos próprios, o
autor incita-lhe o senso crítico; apresentando problemas sociais, políticos,
econômicos e culturais que, por meio de especulações e discussões das
personagens, são vistos criticamente. Destaca-se ainda em sua obra: a apresentação
de situações ignoradas pelo receptor, provocando uma postura crítica diante
delas; a valorização da verdade e da liberdade, estabelecendo uma nova moral; a
relativização do maniqueísmo da moral absoluta; e a presença do elemento
maravilhoso utilizado não como antítese do real, mas como uma forma de
interpretá-lo.
Nesse sentido, observa-se a flagrante ruptura estabelecida por
Lobato que inova tanto na produção de obras que rompem com a tradicional
postura pedagógico-conservadora presente nos textos da época, quanto na sua
divulgação. Autor de uma obra renovadora pelo rompimento com os moldes
tradicionais e pela criação de novas expectativas, Lobato tornou-se não apenas
marco na literatura infantil brasileira, mas sua referência máxima.